A pandemia que assola o mundo, teve um efeito cascata afectando diversas dimensões socio-económicas, além da saúde.
Sem desfavor da seriedade que o tema merece e com o máximo respeito pelas vítimas e o contexto do «novo normal», vamos, no entanto, ficcionar um pouco sobre a relação entre a Covid-19 e a forma como redesenhou o «Trabalho».
Antes da pandemia, eu tinha 3 certezas na vida:
1. O Homem nasce.
2. O Homem perece.
3. E que o dia tinha 24H.
Hoje e durante uma pandemia, comai a ter dúvidas sobre o ponto 3. Em termos absolutos o dia continua a ter 24H mas, em termos relativos sentimos que como 24H de hoje se tornou psicologicamente mais longo.
Antigamente, as 24H eram compostas por: 8H de sono + 8H de trabalho + 8H para cada um realizar as suas necessidades da pirâmide de Maslow.
Actualmente, a ordem natural das coisas parece ter sido interrompida. Imaginando uma bolsa de valores por exemplo, diria que as «horas de sono» e «horas de realização pessoal» perderam bastante comuns ao contrário das «horas de trabalho» que têm uma espécie de «jackpot» neste «novo normal».
Enfim, o «novo normal» de trabalho acabou por alterar a verdade absoluta sobre o dia ter 24H ao redefinir a gestão de tempo que fazemos nesse período.
Puxando pela imaginação e se pudéssemos brincar um pouco com coisas sérias, diria que o Covid-19 é uma espécie de «Patrão mau»:
- Nos faz trabalhar mais horas por dia e pelo mesmo salário.
- Nos retira subsídios (transporte) porque já «não vamos» ao trabalho porque literalmente «vivemos» no trabalho.
- Já não nos controla com o tradicional livro de ponto porque o novo biométrico é o sinal «online» das plataformas de colaboração.
- A nossa presença já não é medida com o «olhómetro», mas com «prova de vida» por exemplo, emails trocados, presença em reuniões, relatórios de status de tarefas com mais hiper-produtividade.
- Nos «dissuade» de sair à rua fazer manifestações sobre direitos laborais devido ao necessário «distanciamento social».
- Já não nos deixa negociar super-contratos de trabalho e solicitar por exemplo: viatura de serviço, casa ou subsídio de deslocalização, porque agora o trabalho é descentralizado: anywhere, everywhere; all the time.
Por fim, depois de reflectir ainda mais, cheguei a conclusão que afinal este Patrão não é mau, o problema são as «más companhias». Desde que o Patrão conheceu a «Internet», aquela rede de redes que permite estarmos conectados a escala global e possibilidades de interacção, tudo ficou assim. E parece que essa amizade veio para ficar. Tenho dito.