O Anonymous Sudan, um grupo de hackers alegadamente sudanês, atacou nesta quarta-feira (2) a maior empresa de telecomunicações da Nigéria, a MTN Nigéria, em reacção à possível intervenção militar da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO, na sigla inglesa) contra o Níger.
A primeira referência pública a possíveis ataques contra empresas de telecomunicações nigerianas surgiu na manhã de quarta-feira, com o grupo anunciando, no Telegram, que tinham como alvos as infra-estruturas tecnológicas da Nigéria. Ao meio-dia, os hackers afirmaram ter realizado o primeiro ataque contra a MTN Nigéria.
“Confirmamos de pessoas dentro da Nigéria e o Twitter na Nigéria está a enlouquecer com a queda da rede MTN. Muitos reclamam que nem conseguem cessar o Google.com. Assumimos total responsabilidade por este ataque por causa das acções do governo da Nigéria com o Níger,” comunicaram os hackers no Telegram.
Uma notificação em que se pode ler um pedido de desculpas da MTN Nigéria aos clientes, devido às dificuldades no acesso aos seus serviços – Créditos: Anonymous Sudan
O grupo informou também que o ataque à MTN Nigéria é o primeiro de vários a serem realizados. Estas acções, explica o grupo, são motivadas pela proposta de intervenção militar da Nigéria, país que sedia a CEDEAO, no Níger.
“Eles (Nigéria) estão a tentar cortar o poder e estão dispostos a participar da planeada invasão colonialista francesa no Níger. Prometemos (acabar) com eles e acabámos de (danificar) toda a rede deles. Você pode verificar o Twitter para confirmar o nosso ataque,” pode ler-se no comunicado.
Alvos supostamente atingidos no ataque à MTN Nigéria – Créditos: Anonymous Sudan
Reacções ao ataque
Sobre o ataque, a MTN Nigéria não confirmou a ocorrência. No entanto, a Agência Nacional de Desenvolvimento de Tecnologia da Informação (NITDA, na sigla inglesa) informou no mesmo dia que o Anonymous Sudan atacou a sua infra-estrutura digital e aconselhou os provedores de serviços financeiros nigerianos, órgãos governamentais e empresas de telecomunicações a se prepararem para uma série de outros ataques.
PRESS RELEASE
— NITDA Nigeria (@NITDANigeria) August 2, 2023
The National Information Technology Development Agency (NITDA), through its Computer Emergency Readiness and Response Team has detected activities of a hacktivist group targeting our vital digital infrastructure.
Read below for more details 👇🏽 pic.twitter.com/4A2nUJy2nu
No documento, a NITDA admite que o Anonymous Sudan, conhecido pelas suas campanhas cibernéticas política e religiosamente motivadas, representa um risco significativo para a infra-estrutura de informações críticas da Nigéria.
Antecedentes
As forças armadas do Níger realizaram, na passada quarta-feira, 26 de Julho, um golpe de estado que depôs o Presidente democraticamente eleito, Mohamed Banzoum, devido, segundo os militares, à “deterioração da situação de segurança” na antiga colónia francesa. O acto foi condenado por vários países, inclusive Angola.
Na passada sexta-feira, 28 de Julho, o “presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria”, Abdourahamane Tchiani, apresentou-se como o novo chefe de Estado do país. Pouco depois, os militares informaram que a França planeava intervir militarmente no país.
Em reacção ao golpe de estado, a CEDEAO, organização da qual o Níger é membro, reuniu-se de emergência para analisar o assunto e, no final, emitiu um comunicado no qual afirma não descartar o uso da força contra o Níger para repôr no poder o presidente deposto, Mohamed Banzoum.
Em reacção às declarações da CEDEAO e às suspeições da intervenção francesa, os governos de transição do Mali e do Burquina Faso, que também chegaram ao poder por via de golpes de estado, emitiram um comunicado conjunto no qual se solidarizam com a causa dos militares do Níger e advertem que qualquer intervenção militar neste país equivaleria a uma declaração de guerra contra os dois países. O Anonymous Sudan representa, deste modo, mais um aliado aos militares que agora detêm o poder no Níger.
Já nesta quarta-feira, 2 de Agosto, a Nigéria informou ter cortado o fornecimento de corrente eléctrica ao Nigér como parte das suas sanções à crise política no país vizinho. Por outro lado, o Senegal, outro membro da CEDEAO, anunciou nesta quinta-feira (3) estar pronta para intervir militarmente no Níger, se a CEDEAO decidir avançar com o seu posicionamento.