Por: Tânia J. A. Costa | Consultora de carreira e negócios
“O câmbio de 10.000 kwanzas por uma nota de 100 dólares entrará em vigor em Janeiro 2021, relatou o Governador do BNA numa entrevista concedida ao website americano do Tesouro”. Com certeza esta notícia deixou o caro leitor muito feliz e, por alguns instantes, esqueceu-se do actual contexto de saúde que vivenciamos. E já agora leia esta outra notícia bomba: “O vírus da Covid-19 é apenas uma gripe e deve ser tratada como qualquer outra doença, segundo relato no website da OMS, datado de 12/09/2020”.
Espere um momento. Agora respire e pergunte-se: será que as notícias acima relatadas são de fonte fidedigna? Algum outro jornal as publicou? As notícias que acabou de ler são extremamente falsas.
Caro leitor, com a expansão das plataformas digitais é crucial termos a preocupação de filtrar e cruzar informações com outras fontes para não sermos vítimas e transmissores de notícias falsas (“Fake news”). A expressão “Fake news” tornou-se conhecida em 2016, quando decorria a campanha presidencial dos Estados Unidos da América, onde a candidata Hillary Clinton foi excessivamente atacada com notícias falsas a seu respeito pelos apoiantes de Donald Trump (BBC News 2016). No entanto, a prática de publicação de “Fake news” ocorre desde o século XIX, sem data oficial. De acordo com o dicionário Merriam-Webster a palavra “Fake” foi inserida recentemente no vocabulário, sendo que anteriormente os países de língua inglesa usavam a expressão “False news” para abordar informações distorcidas, de grande propaganda.
Certamente que a rápida expansão da Internet e dos meios digitais tornou quase impossível o combate às “Fake news”, sendo que existe um mercado que alimenta essa prática. Esse mercado, normalmente, é financiado por pessoas ou grupos altamente organizados, bem posicionados financeiramente, que contratam os produtores de “Fake news” para publicação de conteúdos que comprometam os seus opositores ou, ainda, que provoquem pânico generalizado na sociedade, com base na divulgação de temas ou notícias distorcidas.
Os produtores de falsas notícias são pessoas, grupos ou organizações com diversas actividades profissionais, desde jornalistas, engenheiros informáticos, profissionais de marketing ou até mesmo ex-polícias, que garantem a publicação de conteúdos falsos com a máxima segurança dos equipamentos, para que não haja rastreamento dos conteúdos publicados. Para garantir um serviço de alto nível aos seus clientes, as equipas especializadas na produção de falsas notícias investem em soluções tecnológicas de ponta e em estratégias de localização que dificultam a identificação de quem as contrata, resultando assim quase impossível a punição por esse tipo de crime.
Embora em Angola já esteja em vigor a Lei de Protecção das Redes e Sistemas Informáticos, que inclui o Ciberterrorismo (Lei 7/17, de 16 de Fevereiro) ainda assim nos deparamos com situações de possíveis notícias falsas.
Um exemplo bem claro é a notícia relacionada com a Primeira Dama de Angola Ana Dias Lourenço, que se tornou destaque na mídia angolana e nalguns websites internacionais, que divulgaram o seguinte:
“Informações avançadas esta sexta-feira 22/05/2020 dão conta que a Primeira-Dama de Angola Ana Dias Lourenço terá sido recentemente evacuada e internada na capital francesa, na sequência da contaminação por um vírus desconhecido”.
Entretanto, no Jornal da Noite, do mesmo dia em que a dignitária estaria supostamente no exterior do país “internada na sequência da contaminação por um vírus desconhecido”, a TPA divulgou uma matéria em que a Primeira-Dama surgia saudável numa reunião com a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira e a ministra da Saúde Sílvia Lutucuta. Segundo a notícia da televisão pública, na reunião foi abordada a situação das populações mais vulneráveis e da Covid-19 em Angola.
Assim sendo, podemos fazer uma auto-análise se no dia 22 de Maio de 2020 estávamos perante uma produção de “Fake news” e, se assim foi, com que intuito foi produzida essa “notícia”? Tenhamos em atenção que a referida “notícia” generalizou um sentimento misto de inquietação, pânico e descontentamento social, que, oportunamente, a matéria publicada no Jornal da Noite permitiu rapidamente contornar. São muitas as pessoas singulares e instituições que são alvos dos produtores de “Fake news”, muitas vezes sem poderem defender-se ou contornar a situação devido à rapidez como a informação falsa circula nas redes socias.
Independentemente dos conteúdos publicados, a sociedade, e sobretudo os fazedores de informação, jogam um papel primordial na difusão de notícias falsas e é necessário acautelarmo-nos fazendo uma verificação das notícias antes de as partilharmos com os nossos contactos, pautando-nos sempre por um equilíbrio nos princípios e nos valores, no intuito de divulgarmos apenas notícias credíveis e fundamentadas.