Da criptografia pós-quântica a cidades inteligentes, Gitex 2025 mostrou que a próxima vantagem competitiva será combinar dados soberanos, infra-estrutura de IA e governança responsável.
Entre 13 e 17 de Outubro de 2025, o GITEX Global realizou, em Dubai, a sua 45ª edição com números que falam por si: 6.800 expositores, 2.000 startups de 180 países e 1.200 investidores, numa agenda dominada por IA, dados, cibersegurança, quântica, saúde digital e biotech. Não foi “mais um evento”; foi a consolidação de uma tese: IA já é infra-estrutura – tão essencial quanto energia e conectividade.
IA como camada horizontal
De data centers a “edge”, a conversa deixou de ser “se” e passou a ser “como escalar com segurança”. Fóruns destacaram infra-estrutura de IA, cloud soberana e cibersegurança — com mais de 100 sessões e keynotes que mostraram que a engenharia de confiança (security-by-design, privacidade e compliance) migrou para a prateleira de “requisitos mínimos”.
A política entra em cena: ética, soberania e o tabuleiro geopolítico
No palco central, o recado foi directo: ética, risco e soberania precisam andar à frente dos modelos. O debate sobre a “duopolia Oeste–Leste” de normas digitais e a sessão de IA Risk, Ethics & Sovereignty com o governo dos Emirados Árabes Unidos mostraram que governos serão árbitros de mercado tanto quanto investidores. Para quem opera em países africanos, antecipar marcos regulatórios é tão estratégico quanto treinar modelos.
Sectores em metamorfose: quântica, cidades inteligentes e saúde digital
O GITEX 2025 trouxe uma série de “primeiras gerações” visíveis: lentes de contacto inteligentes que medem glicose, implantes cérebro-computador e edições genéticas assistidas por IA.
No domínio das cidades inteligentes, por exemplo, foi apresentado um sistema totalmente autónomo de trânsito baseado em IA para detectar violações em tempo real no Dubai – um modelo de serviço público que se move rapidamente.
Estes casos mostram que os protagonistas deixaram de perguntar “o que podemos fazer” e passaram para “como estamos a fazer e como estamos a governar isso”. Em termos de impacto prático, isso significa que os ecossistemas que não construírem operacionalização, regulação e escala, correm o risco de ficar à margem.
O circuito startup – capital ganhou um hub definitivo
O Expand North Star consolidou Dubai como super-conector entre capital (financiamento), governo e indústria, reunindo mais de 2.000 startups e 1.200 investidores. Para founders africanos, particularmente PALOPs, a lição é pragmática: posicionar-se onde o capital, os reguladores e os clientes se encontram acelera ciclos de venda enterprise muito além do pitch.
Impactos e oportunidades para África
Para Angola, e outros países da região, o GITEX 2025 oferece três pistas estratégicas:
- Infra-estrutura de IA e soberania de dados: o investimento em “cloud soberana” e “IA nacional” que vimos no evento significa que haverá oportunidades para locação de dados, plataformas do Governo e parcerias técnico-governamentais.
- Governança emergente como vantagem competitiva: os debates sobre ética, risco e soberania sugerem que quem internalizar normas de IA responsável mais cedo poderá acessar financiamento e mercados globais – antes que as barreiras se fechem.
- Startups e roteiro de escala global: o braço de startups, Expand North Star, mobilizou milhares de empreendedores e capital internacional. Isso abre janela para fundadores angolanos e da região a conectarem-se a rotas de expansão no Golfo, no Egipto, em Marrocos – e de lá para o mundo.
Porém, fica o alerta: não basta abraçar a tecnologia – é preciso construir ecossistemas com escala, impacto e governança, caso contrário, a vantagem se perderá para quem estiver melhor preparado globalmente.
Conclusão
O GITEX 2025 mostrou que competitividade digital será cada vez menos sobre “apps” e cada vez mais sobre infra-estrutura de IA, dados confiáveis e governança. Quem alinhar estas três camadas, com clareza regulatória e ambição internacional, capturará o próximo ciclo de valor. Para o ecossistema angolano, é hora de agir: estabelecer padrões, investir em dados e testar em produção, com ética e segurança no centro.




