Hoje em dia, o mundo é movido por bits e bytes, seja para interacções sociais, profissionais, lazer, ou até mesmo para fazer compras: vivemos numa realidade em que quase “tudo” pode ser oferecido como serviço via internet.
A revolução tecnológica trouxe formatos eficientes para aprender, empreender em escala global na velocidade do clique: gosto, partilha, comentário, posts.
A internet é o elo entre pessoas, empresas e organizações, promovendo a participação destes em redes sociais e plataformas económicas que caracterizam a era da Economia Digital. Falar em transformação digital, é tão elementar como falar de construção de vias primárias, secundárias e terciárias para dinamizar a economia em Angola.
A digitalização deu lugar a um processo de transformação da estrutura económica, em paralelo, a adopção e difusão das Tecnologias da Informação e Telecomunicações por parte das empresas vem afectando investimentos em processos de produção, a relação fornecedor-consumidor aportando eficiência e racionalização de custos. A tomada de decisão exige cada vez mais rapidez, exactidão, segurança e qualidade dos dados (o “petróleo” da economia digital).
Afinal, o que é a economia digital? A Economia Digital se caracteriza por incorporar a internet, tecnologias e dispositivos digitais nos processos de produção, distribuição e comercialização de bens e serviços.
Este processo é suportado por 3 pilares:
- Infra-estruturas de telecomunicações
- Negócio electrónico
- Regulamentação
Como Angola se posiciona neste quadro económico cada vez mais digital?
No contexto angolano, a economia digital tem um desenvolvimento significativo por parte do primeiro pilar (infra-estruturas), onde foram registados marcos importantes, aos quais passo o descrever:
Em 2002, ano em que foi lançado o SAT3 ( sistema submarino gerido pela Angola Telecom), o país contava com 2 operadores de internet, licenciados pelo órgão regulador africano – Afrinic. Passados pouco mais que 10 anos, o país passou a ter maior capacidade e gestão de tráfego a nível da internet. Nesta altura, contava-se com cerca de 25 operadores de internet, um crescimento significativo no número de operadores, verifica-se uma concentração do acervo tecnológico em Luanda, acentuando-se desta forma a exclusão digital das demais 17 províncias que compõem o Pais.
Em 2012, com a nova operadora – Angola Cables, é lançado o WACS com capacidade inicial de 14 Tbps, aumentado resiliência para as principais origens de conteúdos digitais: Europa e África.
Fruto do posicionamento estratégico de Angola em África e o ecossistema de conectividade internacional alojado no Data Center Angonap Luanda, big players do panorama digital como Google, Cloudflare, Akamai, Netflix são atraídos para Angola, o que incrementou a qualidade de serviço, com ofertas de soluções internacionais e uma melhoria significativa para o utilizador final.
Mediante um cenário em que boa parte do volume de tráfego internacional dependia em larga medida do WACS, Angola já contava com redundância via SAT3 e ligações em satélite, assim sendo, sempre que se verificasse falha, o país (Luanda) ficava praticamente isolado do mundo, a economia parava, os bancos ficavam sem sistemas, as comunicações ficavam todas no “mudo”.
Estes eram alguns elementos que justificavam a materialização do sistema submarino SACs, suportado pelas ideias de redundância, conectividade contínua, bem como interligação a duas economias opostas do ponto de vista de maturação: a América Latina que se posiciona nos lugares cimeiros da economia digital e o continente africano, onde faltava tudo, colando-se assim na cauda do desenvolvimento digital. Estava desenhado um cenário digno para a metáfora de um copo cheio de soluções tecnológicas (Brasil) e um copo vazio (África), com uma população em crescimento vertiginoso e ávida por tecnologia.
Em finais de 2018, acontecem cortes nos dois sistemas submarinos que ligavam Angola ao mundo (SAT3 e WACS), foram aproximadamente 30 dias em que o País voltou a viver as limitações do satélite, nesta altura a Angola Cables viu-se obrigada a lançar o SACS, permitindo desta forma a interligação aos seus data centers Angonap Luanda (Angola) e Angonap Fortaleza (Brasil), o País é reconhecido publicamente pela façanha, pois o ambiente de telecomunicações sentiu que alguma coisa havia mudado no ecossistema: rotas mais eficientes são criadas para interligar os Estados Unidos, América Latina, Africa e Asia de uma forma jamais vista.
Naquele momento, Angola deu o seu ar da graça ao mundo, demonstrando a sua capacidade com altos investimentos em sistemas submarinos e data centers com certificação internacional, a par destas ligações, a Angola Cables robusteceu a sua presença na Europa e nos Estados Unidos, tendo se interligado aos maiores pontos de atractividade IP mundiais, operadores de topo na cadeia de distribuição da Internet, além de ter atraído provedores de conteúdos digitais norte-americanos.
Num período de cerca de 20 anos de operação, Angola robusteceu a sua infra-estrutura digital com os seus atributos:
- 2 Pontos de troca de tráfego IP angolanos
- 3 sistemas submarinos
- +4 ofertas de soluções de cloud angolanas
- +5 continentes conectados (Africa, Europa, América Látina, Estados Unidos, Asia
- +6 redes de distribuição de conteúdos digitais
- +25 Gbps de tráfego de troca dentro do País
- +26,5 % penetração de internet em Angola
- +44Tbps de capacidade internacional
- +68 operadores de internet licenciados pela Afrinic
Quais os desafios e expectativas da economia digital em Angola? A economia digital angolana conta com uma infra-estrutura robusta e resiliente, estando interligada aos principais epicentros de desenvolvimento tecnólogo do mundo, estando nesta altura a enfrentar desafios que passo a destacar:
- Localização distribuída dos conteúdos em Angola
- Conectividade metropolitana fora de Luanda
- Concentração de operadores em Luanda
- Partilha de infra-estrutura
- Equilibrar a balança poder de compra vs custos das comunicações
- Ligação inter-regional por via terrestre
- Conteúdo angolano alojado no exterior
Agora falamos na adopção de novas tenologias como o 5G, que garantem maior poder de conectividade às comunicações móveis especificamente, todavia, continuamos a verificar as águas passadas a moverem o moinho: investimentos em silos concentrados excessivamente em algumas zonas urbanas da capital. Onde fica Angola que não é Luanda? Vamos continuar garantir que Luanda seja uma cidade inviável ?
Precisamos pensar além do hoje, identificar e potenciar novas “Luandas”, desta forma seremos capazes de realizar uma transformação efectiva, onde Angola se sinta parte como um todo.
Em resumo, Angola tem bases tecnológicas devidamente desenvolvidas a nível das infra-estruturas, de alguma forma verifica-se o surgimento de solução consistentes alicerçadas no comércio electrónico, por si, isto significa maior e melhor acesso a literacia tecnológica, todavia, estes recursos precisam de incentivos diferenciados em função do diversificado território angolano: mais conectividade, menos burocracia, mais incentivos fiscais, melhor regulamentação.
A distribuição de recursos tecnológicos deve ser feita em um formato integrador, a estilo corrida de estafeta, onde cada operador da equipa Angola seja capaz de cumprir a sua parte com rigor, qualidade e um excelente racional custo-benefício para o utilizador final (que somos todos nós).
Recomendo igualmente, a melhoria do custo das comunicações, através do acesso eficiente aos recursos digitais hospedados em Angola, reduzindo assim os tempos na ligação aos conteúdos digitais, em consequência aumentar a qualidade e a duração das recargas moveis de internet – vulgo saldo de dados.
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