Por: Estefânia Sousa, directora para os Assuntos Corporativos da MultiChoice Angola
No âmbito da 2ª edição do Angola Digital Forum, aproveitei a oportunidade de revisitar um artigo do responsável pelo Digital no MultiChoice Group, Vincent Maher, sobre os desafios da disrupção digital no continente africano e as perspectivas para o continente.
Tal como foi a conclusão dos diversos intervenientes, África enfrenta um momento de ajuste de contas no que concerne a sua relação com a tecnologia digital. Em primeiro lugar, segundo a observação de Maher “os desafios relacionados com o desenvolvimento, a infra-estrutura e os elevados custos da Internet criam dificuldades às empresas e instituições na adopção de soluções digitais que possam transformar as suas actividades e funções, bem como ajudar o continente a crescer”.
Nessa linha de raciocínio, de acordo com um relatório do Banco Mundial, os países africanos têm de aumentar a tecnologia digital para alcançarem o crescimento do emprego. No entanto, para muitos países essa transformação traz uma disrupção grande, uma vez que nem todas as empresas estão preparadas para acomodar essa mudança. Aliás, a COVID-19 foi uma demonstração das desigualdades de inclusão digital dos diferentes continentes e nos diversos painéis de discussão, incluindo o da nova economia, focou-se na necessidade de uma maior equidade no acesso às novas tecnologias e para além do investimento em infra-estrutura, é essencial o investimento em educação e formação tecnológica.
Assim, antes de qualquer aposta na digitalização, os negócios têm de compreender o que é que esta transformação implica e adoptar o mindset correcto, de modo a conseguirem abraçar a disrupção digital de forma significativa e sustentável.
Não ter medo da mudança
Os intervenientes no fórum foram claros que as empresas devem estar entusiasmadas com a perspectiva da transformação digital. Para as empresas tradicionais, isto materializa uma mudança nas necessidades dos consumidores e estabelece as bases para uma economia digital, com foco digital. As empresas que não acompanharem este movimento tecnológico disruptivo, estão por sua conta e risco, pois os seus modelos de negócios mais cedo ou mais tarde tornam-se obsoletos.
A disrupção digital não é um fenómeno único, as empresas precisam de estar constantemente atentas aos desafios e oportunidades que surgem, independente do seu core business, posicionamento estratégico e localização geográfica, a título de exemplo, temos a televisão por satélite que tem transformado o continente, mudando os meios de comunicação e o panorama da radiodifusão. Hoje em dia, os serviços de transmissão por satélite (OTT) e os serviços on-demand estão rapidamente a tornar-se a forma mais popular do público se envolver e consumir conteúdos. Em resumo, prevê-se que as assinaturas de vídeo on demand (SVoD) em África atinjam 13,72 milhões até 2027.
O sector dos serviços financeiros em África é outro excelente exemplo da disrupção digital que está a transformar a indústria. As Fintech no continente estão a crescer e a desenvolver-se, à medida que os utilizadores buscam cada vez mais soluções digitais. O sucesso desta indústria é o resultado da revolução tecnológica, que acontece um pouco por todo o continente, apesar de ser ainda escassa, tardia e na maioria dos países não estar ao alcance de todos. Ainda assim, as organizações devem olhar para o processo de implementação de novas tecnologias, como um factor diferenciador e inovador, que surge, por um lado, para o crescimento e continuidade dos negócios, portanto inevitável, e, por outro lado, para a satisfação dos clientes à medida que estes evoluem e tornam-se mais exigentes.
Ir para onde os clientes estão
À medida que nos conectamos, enquanto continente, mais participamos na economia digital mundial, o que significa que toda e qualquer empresa deve fazer uma transição tecnológica dos seus negócios, ainda que seja paulatina. A disrupção digital vem revelar novas oportunidades, mas, sobretudo racionalizar as funções empresariais.
Na prática ela inicia um processo de transição dos negócios, substituindo todos os processos por serviços digitais e adoptando uma abordagem multiplataforma, mudança que permite aceder a novas oportunidades e benefícios, ao mesmo tempo que responde as novas exigências e solicitações do mercado e consumidores e se adapta às necessidades específicas dos consumidores. Plataformas como o serviço de USSD, o WhatsApp ou o Telegram permitem incluir consumidores que não tenham educação digital ou poder financeiro para aceder aos serviços digitais em países como o nosso em que a penetração de Internet ainda é das mais baixas de África.
Abertura à Inovação
Finalmente, Vincent Maher refere que as revoluções industriais não podem acontecer se nos sentarmos de braços cruzados. Por todo o continente vemos novas empresas e outras já estabelecidas a usufruírem dos benefícios da disrupção tecnológica. Por exemplo, a inteligência artificial (IA) tem um papel activo nas operações empresariais, manifestando-se de diferentes formas (muitas vezes na retaguarda, longe da visibilidade do consumidor). A Inteligência Artificial é uma ferramenta que lhe permite poupar tempo e dinheiro, deixando-o pensar estrategicamente em vez de pensar principalmente no que está a acontecer a nível da execução, além de oferecer também uma visão valiosa dos seus dados, tais como comportamento do consumidor e tendências de compras.
Em última análise, não podemos ignorar que o desenvolvimento tecnológico deve estar intrinsecamente ligado ao desenvolvimento do continente. Ao esmiuçarmo-nos sobre a disrupção tecnológica, percebemos como esta pode impactar de maneira positiva e transformar o panorama empresarial africano.