Por: Marco Guimarães
Aqui estou eu fazendo minhas experiências com as ferramentas de Inteligência Artificial que, apesar de já existirem há alguns anos, só começaram a chamar atenção agora (Chat GPT, Dall-E, etc). E acho que os resultados já são mesmo excelentes, apesar do “barulho” que vem sendo feito contra e a favor, o fato é que a tecnologia está chegando aonde alguns achavam que ela não ia chegar por puro desconhecimento ou ingenuidade.
E, sim, ela pode trazer grandes oportunidades e estragos ao mesmo tempo. O potencial de criar abismos de desigualdade é altíssimo, mesmo onde este abismo ainda não existe, ou seja, no trabalho intelectual.
O trabalho criativo “relativamente simples” agora pode ser automatizado… com certeza não é melhor do que os melhores seres humanos fariam, mas o fato é que, muitas vezes, precisamos apenas do “feijão com arroz”, aquela capacidade básica de fazer algo para realizar algumas tarefas.
Por exemplo, eu tenho muitas ideias, mas não sei desenhar… só que agora posso dizer para uma ferramenta que “desenha”, não a uma pessoa, que crie para mim um “Jesus Cristo com aparência de deus hindu”, e a ferramenta cria para mim, com base em todas as imagens disponíveis que ele tem de ambas as informações… baseado no grande mar de informações que é a Internet. O resultado pode não ser perfeito, mas aparece. Um bom desenhista poderia melhorar a ideia, mas não preciso dele para os esboços da ideia mais.
E para quem aponta os defeitos da tecnologia, quem diria que os primeiros automóveis levariam ao que temos hoje? Ou quem, no antigo Egipto, diria que papiros dariam lugar a leitores digitais? Ou, na época dos telégrafos, quem diria que surgiriam telefones sem fios e que eles se tornariam algo pessoal, que poderiam ter imagens em movimento? Como dizer isso numa época em que apenas se ouviam “bips” de código Morse.
Isso é assustador e excepcional ao mesmo tempo. Pois, pode deixar a pessoa de uma única habilidade sem trabalho mas, pessoas de várias habilidades e ideias, que precisariam de alguns complementos, extremamente “empoderadas” pelos assistentes pessoais. Seria talvez a volta por cima do perfil generalista, desde que saiba se utilizar da tecnologia, em relação ao especialista “desconectado”.
A ordem actual certamente será balançada… e os governos precisam estar atentos a isso, pois a desigualdade vai aumentar e a necessidade de pensamento crítico certamente aumentará junto. Não bastará apenas saber ler e escrever e, sejamos sinceros, isto já não basta há alguns anos. Mas como desenvolver pensamento crítico se tudo estará automatizado e virá “mastigado” para você? Para usar bem a IA, devemos saber como fazer as coisas sem ela, assim como para usar bem o Google, devemos entender a lógica da busca. Devemos saber analisar um texto sem assistentes antes de utilizá-los… devemos fazer contas no papel antes de utilizarmos calculadoras. Precisamos saber os porquês e as lógicas por trás das coisas antes de usar as fórmulas prontas. Não devemos negar a tecnologia, não creio que este seja o caminho. Mas, devemos ensinar as pessoas como utilizá-las sem serem escravos delas, tendo consciência do que elas fazem e da produtividade que trazem.
Este é o problema atual e o nosso desafio… o que precisamos discutir com a mesma velocidade com que as tecnologias actuais evoluem. As novas gerações não sabem bem distinguir fontes confiáveis de não-confiáveis, precisam ser ensinadas a isso. Para mim foi fácil, pois cresci com jornais, enciclopédias, livros e dicionários confiáveis (alguns mais, outros menos). Se eu desconfiasse da opinião de um jornal ou revista, ia às bancas e lia o mesmo assunto escrito por um jornal ou revista de opinião diferente, mas hoje está difícil “classificar” fontes porque as vozes têm o mesmo volume e há muitas delas. Tudo vem do Google, do Twitter, do Bing… ou do DuckDuckGo e tantos outros buscadores e redes sociais. Blogs com ou sem compromisso e “transmissões ao vivo” de canais na internet são a fonte de informação geral, mas nem sempre, apesar de enorme audiência, tomam o cuidado devido com seu conteúdo e checam a fiabilidade da informação que passam. E, no caso das “fake news”, isso é feito de forma proposital.
Assim, minha preocupação é em como devemos preparar a próxima geração para este mundo em que a tecnologia, cada vez mais, é seu trampolim e seu abismo. Em como fazer as pessoas usarem as redes sociais sem se tornarem produtos delas e gastarem todo o seu tempo livre com vídeos de 30 segundos, “likes” e “repostagens”?
E isso tudo nos leva a um assunto antigo, a Ética. Porque a parte essencial do problema não está na tecnologia… porque uma folha de papel sempre divulgou o que estava escrito nela, seja verdade ou mentira. E se considerarmos essa como nossa primeira grande tecnologia disruptiva, que criou abismos na sociedade, entendemos que este não é um problema novo.
Novos são a dimensão do problema “tecnologia” e a capacidade de segregação entre quem tem o domínio dela e quem não tem. Uma capacidade de segregação ainda maior que no antigo Egipto, ainda mais impactante que na Revolução Industrial. E a humanidade ainda nem conseguiu resolver a desigualdade destas eras, mas precisamos seguir pensando em soluções, sem entrar em pânico, criando formas de lidar com a questão e orientar as novas gerações a não virarem escravas da tecnologia, mas a utilizarem como boas ferramentas para a evolução da sociedade e delas mesmas.
Este é o grande desafio de sempre, desde a invenção da linguagem falada, da agricultura e da escrita. A tecnologia está aí para o bem e para o mal, o que limita seu uso é a Ética e, o que impulsiona o desenvolvimento, é seu uso em prol da sociedade.
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