Numa entrevista cedida ao Portal de T.I., o especialista Darwin Costa analisou a infra-estrutura de Internet em Angola, defendendo a necessidade urgente de terminações de cabos submarinos fora de Luanda para aumentar a resiliência, reduzir custos e melhorar a qualidade do serviço em todo o país.
Actualmente, a esmagadora maioria dos cabos submarinos internacionais de Angola como o SAT-3/WACS, WACS, SACS e o futuro 2Africa aterram na região de Luanda, Cacuaco ou Sangano. Darwin Costa alerta que esta concentração cria um “ponto único de falha” operacional, climático ou administrativo. A descentralização para províncias como Benguela, Namibe ou Cabinda, na sua visão, tornaria a rede nacional muito mais robusta.
O especialista explicou que, com a actual configuração, o tráfego de Internet de qualquer ponto do país tem de “subir” até Luanda para depois sair para o mundo. Isto aumenta a latência e os custos de transporte de dados. Se houvesse pontos de aterragem noutras regiões, o tráfego local sairia directamente, melhorando a velocidade e a eficiência económica. No entanto, Costa salienta que este ganho só se concretiza se a “última milha” (a ligação ao consumidor final) for competitiva e aberta.
Questionado se esta mudança implica uma nova infra-estrutura independente, Darwin Costa foi peremptório em dizer que sim, justificando que, para um impacto real fora de Luanda, é necessário desenvolver um ecossistema completo, que inclua:
1. Pontos de amarração de Cabos e Data Centers Regionais: Com energia estável, segurança e operação contínua.
2. Backbone Terrestre Redundante: Uma rede de fibra óptica em anéis que ligue as capitais de província de norte a sul e de leste a oeste, com redundância.
3. Expansão dos Pontos de Troca de Tráfego (IXPs): Actualmente, os IXPs activos de Angola (Angonix e Angola-IXP) estão apenas em Luanda. Criar IXPs regionais permitiria que o tráfego local entre redes diferentes fosse trocado localmente, sem passar pela capital, melhorando a eficiência.
4. Caches e CDNs fora de Luanda: Instalar servidores de conteúdo (como os de YouTube ou Netflix) mais perto dos utilizadores finais fora de Luanda.
Darwin Costa reconhece que este é um “investimento intensivo e com risco de procura”, uma vez que cerca de 60% da actividade económica e do tráfego de Internet se concentra em Luanda.
Para mitigar estes riscos, sugere acordos de “Anchor Tenancy”, parcerias com operadoras móveis e ISPs que garantam uma procura mínima, políticas de acesso aberto nas CLS, permitir que múltiplos operadores possam utilizar as estações de cabos de forma não discriminatória, fomentando a concorrência e o uso de Fundos de Serviço Universal que são recursos públicos destinados a expandir o serviço, começando por corredores com maior procura, como o eixo Benguela–Huíla–Namibe.
Sobre a má qualidade da Internet fora de Luanda, o especialista aponta evidências indirectas da falta de investimento: a concentração dos IXPs na capital, velocidades medianas modestas a nível nacional e as fortes desigualdades entre zonas urbanas e rurais. A expansão de IXPs e backhaul competitivo são, na sua opinião, soluções chave para estes problemas.




