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As empresas angolanas de telecomunicações e do sector tecnológico em geral precisam aumentar a sua capacidade de investimento em inteligência artificial (IA), pois o esforço actual “ainda é muito conservador”, alertou esta quarta-feira (19) o CEO da New Cognito, Sérgio Lopes.
Tomando como exemplo os investimentos feitos pela Unitel, Africell, Movicel, Angola Telecom e MSTelcom em 2024, o gestor afirmou que, juntas, as telcos investiram mais de 600 milhões de dólares na modernização das suas infra-estruturas, no entanto, desse valor, apenas 4% foi investido na adopção de IA ou em tecnologia com IA incorporada.
“Existem hoje organizações e líderes que, na sua estratégia, já colocam valores bastante significativos – que variam entre 10% e 40% daquilo que é o seu budget – em tecnologia. No entanto, no que toca ao investimento em IA, temos de saltar dos 4% para 20%, e aí sim será possível ter uma estratégia para abraçarmos o desafio da Inteligência Artificial”, afirmou.
Sérgio Lopes argumenta que “aquilo que temos hoje em Angola não é, de todo, o cenário que nos vai projectar para um outro patamar”, pois as empresas de telecomunicações não estão a investir naquilo que é o paradigma da IA e nos ganhos que a mesma pode trazer. O investimento das telcos, diz, está a ser direccionado essencialmente para a sua capacidade e a cobertura.
“Hoje, e olhando para o caso particular das telcos, estão ainda numa fase embrionária daquilo que é o 5G. Nós temos 5G em Luanda e apenas em algumas capitais de província. Já há países que estão hoje a fazer pilotos com 6G. A expectativa é que, em 2030, esta tecnologia já esteja a ser comercializada, no entanto, a nossa infra-estrutura ainda não está, de todo, preparada para dar este passo”, frisou.
Voltando-se à Proposta de Lei sobre a Inteligência Artificial, que está em consulta pública, Sérgio Lopes saudou a iniciativa destacado que o país acaba por um dos pioneiros em África a dar este passo que entende ser importante na perspectiva da governação.
No entanto, observa ser determinante reforçar a capacidade do país ao nível da conectividade, “porque sem isso vamos continuar exactamente com os mesmos desafios, de não termos a capacidade de chegar às zonas mais remotas, como acontece hoje”, afirmou.
“Está, neste momento, a decorrer a consulta pública da Proposta de Lei sobre a Inteligência Artificial, e os contributos são praticamente incipientes. Esta manhã [19 de Novembro] tinham contribuído 15 empresas, 11 especialistas e quatro membros da sociedade civil. Temos de nos envolver e contribuir mais. E, depois, conhecer a lei, o que vai existir em Angola e o que existe a nível internacional, por forma a que, mais do que nos salvaguardarmos, sermos embaixadores daquilo que são as boas práticas”, afirmou.
Para Sérgio Lopes é ainda crucial haver um maior envolvimento entre as empresas e a academia, que considera “praticamente inexistente” actualmente.
“Pontualmente há uma iniciativa, é criado um laboratório, mas é incipiente e fica por aí. Se queremos efectivamente endereçar o tema das pessoas, temos de começar na base, no ensino, seja ao nível das instituições públicas, mas também das privadas, sendo que os ecossistemas empresariais têm também de ser elementos que contribuem de forma permanente, e não apenas em actos isolados”, apelou.
O CEO da New Cognito defende assim necessidade de haver um movimento ao nível de toda a sociedade, das empresas e do sector privado, para serem o motor desta mudança e desta adopção.
“O Governo está a fazer o seu papel, a criar regulamentação, a promover algumas infra-estruturas que serão para o uso do próprio Governo. Depois somos nós, as pessoas, que temos de assumir também o nosso papel”, finalizou.



