Um olhar sobre o profissional e o papel da comunicação na actualidade

Um olhar sobre o profissional e o papel da comunicação na actualidade
Nesta entrevista estivemos à conversa com Luís Catuzeco José, um profissional angolano e perfil de referência em matéria de Comunicação Corporativa, que partilhou connosco, numa conversa intimista, o seu trajecto de carreira, escolhas académicas e a sua visão sobre a importância da Comunicação nas organizações.
 
Portal de T.I (PTI) – Quem é Luis Catuzeco José?
 
Luís Catuzeco José (LC) – Luis Catuzeco José é um quadro sénior angolano, que tem desenvolvido uma carreira consolidada em Angola, com mais de 15 anos de experiência profissional, em funções relacionadas com Marketing, Desenvolvimento de Negócio e Comunicação Corporativa.
 
Faz parte de uma nova geração de gestores que têm assumido cargos de liderança em empresas prestigiadas e multinacionais baseadas no país.
 
Paralelamente, é uma pessoa socialmente activa, nomeadamente em acções de mentoria, formação ou responsabilidade social, sendo palestrante em diversos eventos, nacionais e internacionais.
 
PTI – Fale-nos do seu percurso académico e como as suas escolhas de estudos influenciaram a sua carreira profissional.
 
LC – Sou Licenciado em Ciências da Comunicação, pela Universidade de Lisboa, e tenho uma Pós-Graduação em Gestão de Empresas, pela Universidade Lusófona de Lisboa.
 
Paralelamente, sou certificado em Gestão de Projectos, pelo Project Management Institute, certificado como Formador, pelo Centro Nacional de Formação de Formadores e detenho um Mini-MBA em Telecomunicações pela Telecoms & Tech Academy.
 
Podemos dizer que a formação superior, nos domínios da comunicação e gestão de empresas, foi um facilitador para as oportunidades profissionais que tive. Por outro lado, as certificações complementares em gestão de projectos, telecomunicações e formação de formadores, foram essenciais para permanecer como um quadro relevante, diferenciado, e especializado, nas funções sobre as quais sou chamado a responder.
 
PTI – Quais foram as suas experiências profissionais e de que forma contribuíram para a construção da sua carreira?
 
LC – Eu penso que um profissional de comunicação deve ser versátil, ter capacidade de
adaptação e inteligência cognitiva para saber-ser, saber-estar e saber-fazer.
 
Na verdade, eu optei por construir a minha carreira buscando experiências profissionaisem sectores de actividade diferentes entre si. Hoje, tenho um conhecimento multidisciplinar, fruto da expertise recolhida do sector da Comunicação Social, Banca, Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Transportes e Aviação Comercial.
 
Nesta jornada, aprendi que cada sector é específico e tem as suas próprias sinergias, e
a forma de se trabalhar a comunicação corporativa e institucional, não é de todo,
homogénea.
 
Estou convicto de que esta abordagem de aquisição de conhecimento transversal, me tornou um profissional mais capaz, mais holístico, conhecedor de múltiplas realidades. Considero que é uma vantagem competitiva, enquanto especialista em comunicação e uma boa valência para lidar com uma audiência diversificada e transmitir uma mensagem direcionada ao público-alvo.
 
PTI – Qual é a importância da Comunicação nas organizações?
 
LC – Sou suspeito em responder a esta pergunta. Todavia, diria que é consensual que a comunicação é o alicerce de qualquer organização, seja ela uma pequena empresa ou uma grande organização.
 
A comunicação (interna e externa) permite que as informações fluam, que sejam compartilhadas ideias, objectivos, mensagens e se fortaleça a cultura corporativa.
 
A comunicação é o elo de ligação para com os diferentes stakeholders da organização (colaboradores, accionistas, clientes, fornecedores, parceiros, investidores, autoridades, reguladores, concorrência, órgãos de comunicação social, ONGs, opinião pública, etc.) sendo igualmente, um veículo de construção da percepção social da empresa, cultura organizacional, posicionamento de Marca ou Institucional.
 
PTI – O que é que faz um profissional inserido numa Direcção de Comunicação?
 
LC – Em linhas gerais, cabe a uma Direcção de Comunicação, planear, controlar e coordenar as entregas de comunicação, sejam elas de natureza interna, corporativa, institucional ou de imprensa. Deve assegurar, portanto, a circulação eficaz de informação junto dos clientes internos e externos.
 
Como tarefas mais tácticas e do quotidiano, podemos sinalizar a disseminação de informação corporativa e do negócio para as partes interessadas, facilitação de acções de endomarketing para promover um clima organizacional positivo, engajar os colaboradores em torno da visão, missão e valores da Companhia, fomentar a adopção das melhores práticas de compliance, criar/manter/reforçar as boas relações institucionais entre a entidade e os parceiros, alavancar a reputação da organização junto da imprensa e opinião pública no geral, promover acções ou eventos que retornem em goodwill.
 
Ademais, gerir a comunicação e os canais em que ela se manifesta, sendo que, tipicamente, o Director de Comunicação, é um Porta-voz autorizado, habilitado a se pronunciar publicamente em representação da empresa.
 
No entanto, estas atribuições podem variar, dependendo se a área de Comunicação é uma Direcção independente, ou se está integrada numa Direcção de Marketing ou Direcção de Capital Humano e Comunicação Corporativa, por exemplo.
 
PTI – Quais são os grandes desafios de uma área da comunicação?
 
LC – Bom, é uma pergunta interessante, e que não se esgota apenas no meu contributo.
 
A transição para a comunicação no digital. É um desafio importante e uma necessidade para as empresas conseguirem se manter relevantes, para um publico cada vez mais recepectivo ao e-business.
 
Fake News. A viralização de notícias falsas ou partilhas ultra-comentadas de disrupções na actividade de uma dada organização. Tal, exige um trabalho consertado para o devido esclarecimento, gestão da crise ou defesa da reputação organizacional.
 
Sobreinformação. Os profissionais de comunicação devem ser capazes de criar conteúdos relevantes, mas também, interessantes, capazes de gerar A.I.D.A (A=Atenção, I=Interesse, D=Desejo, A=Acção).
 
Gerir audiências não-homogéneas. Significa que se devem colocar em prática estratégias de segmentação e personalização de conteúdos, sem, contudo, as entidades, perderem a sua identidade, mística, valores ou coerência.
 
Comunicação intergeracional. Temos várias gerações a coabitar (Baby Boomers, Geração X, Millennials, Geração Z) e estas pessoas valorizam coisas diferentes, têm características de consumo dissemelhantes, hábitos e expectativas distintas.
 
Saber diferenciar o público de comunicação e o público de consumo. Dependendo dos sectores de actividade, e do foco B2B ou B2C da comunicação, o nosso público de comunicação, aquele a quem direcionamos as campanhas e mensagens (colaboradores, influenciadores, nichos, opinião pública, comunidades, outros) pode não coincidir com o com o público de consumo, aquele que efectivamente tem envolvimento financeiro com a organização e compra os produtos/serviços (leads, prospects, clientes). Assim é necessário acautelar procedimentos de KYC (Know Your Customer) e ferramentas de CRM (Customer Relationship Management), de forma a se equilibrar o budget de comunicação e marketing e balancear os investimentos com cada target.
 
Pensar global e comunicar local. Num mundo cada vez mais globalizado e negócios, as organizações, sobretudo as multinacionais, têm de encontrar o equilíbrio entre comunicar local e comunicar global, centralizar ou descentralizar a mensagem corporativa, definição do idioma a usar nas comunicações da organização, ou gestão de equipas remotas.
 
PTI – A área de comunicação corporativa está ameaçada pela emergência das novas tecnologias?
 
LC – Pelo contrário. Estou seguro de que as novas tecnologias vão aportar mais valor, alcance e impacto aos profissionais de comunicação corporativa, e de marketing em particular.
 
A comunicação é uma ciência social, se baseia (entre outras coisas) na sensibilidade, empirismo, analise de contexto, percepção, cultura, expectativas ou criatividade, temáticas que, digamos, não são programáveis.
 
As novas tecnologias são grandes aliados, ajudam a retirar ilações no processamento de grandes dados (Big data), dão-nos ferramentas de trabalho colaborativo e canais digitais para comunicar e obter feedback, nos propiciam mais conhecimento e facilitam o nosso trabalho no geral.
 
Considero por exemplo a A.I (inteligência artificial) como um recurso muito poderoso a nível da construção de documentos e pesquisa, auguro que a realidade virtual terá um impacto muito grande a nível da formação e treino do Capital Humano, e vejo a realidade aumentada como um recurso muito interessante na publicidade, e experiência do cliente com um determinado produto, serviço, ou activação em eventos, isto, para dar citar algumas aplicações da tecnologia na comunicação e marketing.
 
PTI – Quais são as características-chave de um profissional de comunicação?
 
LC – Bom, não existe propriamente um guião à la carte.
 
Eu diria que um profissional de comunicação deve possuir um conjunto de habilidades que o tornem capaz de transmitir mensagens de forma clara, persuasiva e com impacto. Deve ser alguém capaz de construir e manter relacionamentos, influenciar públicos e materializar acções e iniciativas que reforcem os objetivos corporativos de uma organização.
 
Deve se distinguir ao nível da comunicação verbal, não-verbal, escrita e public speaking, bem como, na escuta activa, criatividade, conhecimento técnico, capacidade analítica, inteligência emocional e adaptabilidade. No fundo, deve ser um facilitador e estratega da comunicação com o mundo que o rodeia.
 
PTI – Como se mantém actualizado com as tendências e mudanças na área de comunicação desde o início de sua carreira até hoje?
 
LC – A ideia central é que nunca deixamos de ser alunos. Num mundo em constante mudança devemos nos manter a par das novas dinâmicas. Eu participo em palestras, workshops e seminários com alguma regularidade, seja na audiência ou mesmo como orador ou moderador. Afinal, é sempre uma oportunidade para captar coisas novas, beber da experiência de outros especialistas, reciclar conhecimento.
 
Alem disso, procuro por conteúdos online, em bibliotecas digitais, videografias e similares, sobre temas que me sejam úteis e que de alguma forma me ajudem a manter actualizado sobre as novas tendências.
 
PTI – Estamos na reta final da nossa entrevista. Que mensagem gostaria de deixar a próxima geração?
 
LC – Primeiro, gostaria de dizer que tenho muito orgulho da minha geração. Faco parte deuma geração de jovens gestores que conseguiram provar o seu valor e singrar, quer nas empresas ou enquanto empreendedores.
 
Vejo o êxito dos meus colegas de geração como se fossem meus, pois, cada vitória deles é uma afirmação da classe, é uma demonstração que o profissionalismo, competência e capacidade de deliver não tem idade.
 
Para a geração que se segue, diria que a disciplina, proactividade, networking e a ambição de querer aprender todos os dias, são valores importantes, e que, mais cedo ou mais tarde, abrem janelas de oportunidade para uma carreira de sucesso.
 
PTI – Para finalizar, gostaríamos que completasse a seguinte frase: Comunicar é?
 
LC – Arte.

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