Por que implementar o IPv6 em Angola é mais barato que em outros lugares do mundo?

Por que implementar o IPv6 e Angola é mais barato que em outros lugares do mundo?

Para ajudar-nos a compreender a importância da adopção do IPv6 e o porquê da sua implementação ser mais barata em Angola do que em outros lugares do mundo, estivemos à conversa com o analista de telecomunicações e CEO da Telecom Consultoría, Entrenamiento y Servicios, Uesley Corrêa, durante a última edição do AOPF, realizada em Luanda.

Portal de T.I (PTI) – Senhor Uesley, obrigado por aceitar falar ao Portal de T.I. Indo directo ao ponto, o que torna o IPv6 tão especial e diferente em relação ao seu antecessor?

Uesley Corrêa (UC) – Para falar do IPv6, a gente tem de falar sobre o caminho usado por uma pessoa para se conectar à Internet. Assim, quando falamos de uma Internet com IPv4,  estamos a referir-nos a um caminho difícil, esburacado e cheio de praças de pedágios, que são equipamentos típicos em uma rede IPv4, cuja função é interceptar pacotes e realizar priorização de tráfego. Já o IPv6, é um caminho simples, fluído e optimizado, o que permite uma maior carga livre no corpo do pacote para levar a informação.

Trocar o IPv4 pelo IPv6 seria como trocar um automóvel pequeno por um maior, mas consumindo a mesma quantidade de combustível, daí a importância de adoptar o IPv6 porque, actualmente, não existem mais direcções IPv4 no mundo, excepto em África, e não há mais a possibilidade de se fabricar novas direcções.

PTI – Que riscos implícitos os operadores angolanos estariam a assumir ao não adoptarem o novo protocolo?

UC – Os riscos seriam basicamente os mesmos de alguém que teve a necessidade de trocar um automóvel a gasolina por um automóvel eléctrico, mas não o fez no devido tempo. Naturalmente, no devido momento, não será mais vendido gasolina e ele não poderá mais utilizar o seu automóvel.

A internet hoje é feita, basicamente, de dois actores principais, isso sem citar o meio do caminho. Estes autores são o conteúdo e o consumidor. Actualmente, a maioria do conteúdo já se encontra em IPv6 e as empresas não querem mais investir em IPv4 para manter esses conteúdos a funcionar. Chegará, pois, um dia em que estas empresas vão desligar as suas redes IPv4. Por isso, quando pensamos em não implementar o IPv6, corremos o risco de prejudicar ainda mais o segundo actor, o consumidor.

PTI – Voltando à questão chave da sua apresentação, por que implementar o IPv6 em Angola é mais barato que em outros lugares do mundo?

UC – É mais barato porque vocês ainda têm disponibilidade e acesso à direcções IPv4. Ou seja, a implantação do IPv6 ainda depende do IPv4, porque 25 a 30% do conteúdo é em IPv4. Então, é obrigatoriamente necessário que se tenha os dois protocolos andando simultaneamente. Nas diversas maneiras de implementação, sempre será exigido os dois protocolos.

Os países que não têm mais o IPv4 têm de recorrer ao mercado, pagando na faixa dos 50 a 60 dólares norte-americano por direcção IPv4, quando hoje em Angola, por exemplo, você consegue 1/24, que são 256 direcções IP por um preço de 1.000 a 1.200 dólares, contra o preço de 14.100 dólares praticado nos países sem IPv4 nesta altura para se conseguir o mesmo bloco.

Ou seja, os países que já não têm o IPv4 precisam, hoje, pagar mais caro para conseguir este protocolo, quando em Angola podemos tê-lo a um preço aceitável. Então, essa possibilidade tem que ser aproveitada a fim de se implementar o IPv6 enquanto o IPv4 ainda está a funcionar, fazendo com que os clientes possam ter uma excelente qualidade de navegação sem ter que gastar muito dinheiro.

PTI – O Brasil já passou por este processo de mudança de protocolo e desde 2020 vocês já não contam com direcções IPv4. Na sua opinião, que experiências o Brasil pode partilhar com Angola para ajudar-nos a efectuar uma transição sem muitos constrangimentos?

UC – O Brasil passou, de facto, por essa fase e infelizmente em 2020 acabaram as direcções IPv4. Hoje, um solicitante que queira IPv4 terá de esperar, pelo menos, 5 anos para receber alguma coisa do antigo protocolo. Então, os sistemas autónomos, os ISPs que começam hoje entram para o mercado sem nada de IPv4, tendo que ir ao mercado comprar e pagar caro.

Então, o que Angola pode aprender da nossa experiência é que nós, desculpa-me a expressão, fomos tolos, porque deixamos passar o tempo e esperamos acabar o IPv4 para, depois, darmos conta de que precisávamos implementar o IPv6. Por nós, incluo-me também como membro da Comunidade de Internet da América Latina e Caribe, isto apesar de eu já ser usuário e implementador de IPv6 há mais de 10 anos e já saber da responsabilidade do operador.

Mas, a verdade é que a maioria não soube ver isso no seu tempo e agora estão a ressentir-se dos custos  de ter que implementar o IPv6 às pressas, sem fazer um bom projecto. Então, vocês podem aprender de todas essas experiências negativas para efectuar uma transição da forma mais correcta, não deixando acabar o IPv4 para se aperceberem da urgência de implementar o IPv6.

 

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