Por: Sílvio Almada| Presidente da AAPSI
O impacto das 5G na área dos transportes promete ser uma verdadeira revolução. As novas redes móveis ajudam já algumas “cidades inteligentes” a gerir o trânsito, os sistemas de transporte público e a emissão de gases poluentes. Tecnologias existentes, como os veículos autónomos ou a geolocalização, ganham agora nova velocidade com a ultra-conectividade, confiabilidade e baixa latência das 5G.
Mais um dia em Luanda. O director de uma empresa tem uma reunião das 9 às 11 da manhã na Marginal. Depois de deixar o chefe, o motorista Sr. José estaciona o carro onde pode, liga o rádio, o ar condicionado por uns minutos (ninguém aguenta este calor!) e começa uma longa espera de duas horas. Entretanto, ali ao lado, na Mutamba, o contabilista dessa mesma empresa acaba de sair de um encontro de trabalho. Não sabe que o Sr. José está num veículo corporativo a poucos metros, meio acordado meio a dormir. Entra então noutro carro da firma que a secretária agendou só para ele e regressa ao escritório a todo o gás.
Dois automóveis e dois condutores num vaivém e cochilos descoordenados e sem sentido – o subaproveitamento de recursos é óbvio. Exemplos como este são muitos, e quando levados a grande escala (uma empresa de transporte ou uma cidade) somam perdas significativas. O que tem isto a ver com as 5G? Tudo. A gestão das redes públicas ou privadas de transportes pode ser uma dor de cabeça para empresas e autoridades, e é precisamente uma das áreas em que a nova tecnologia de redes sem fios pode ter um impacto significativo.
Uma experiência na Inglaterra demonstra-o bem. Para testar a eficiência da sua frota, o Departamento de Transportes usou sistemas integrados de redes móveis 5G, Internet das Coisas e Inteligência Artificial e analisou o uso diário de 600 automóveis. Contas feitas, as autoridades concluíram que 120 destes veículos eram absolutamente desnecessários e desfizeram-se deles. A decisão poupou à instituição uns significativos 500 milhões de dólares.
Em situações como esta, o bolso agradece e o meio ambiente respira de alívio. A monitorização dos veículos promove não só as poupanças, mas também a eficiência energética e a redução de gases poluentes. Segundo o estudo “5G Verde: Construindo um Mundo Sustentável”, promovido pela Huawei e pela consultora internacional Analysys Mason, os transportes são, talvez, o sector em que as 5G podem impulsionar uma mudança mais dramática quando falamos de sustentabilidade. Os veículos são responsáveis por cerca de um terço das emissões em várias regiões do planeta. O Livro branco 5G verde foi lançado a 19 de Julho deste ano e é resultado de uma parceria entre a organização global de consultoria e pesquisa, Analysys Mason, e a Huawei, a multinacional chinesa presente em Angola há mais de 20 anos, onde tem contribuído significativamente para a transformação digital nos sectores público e privado.
Cientes das novas possibilidades, cidades como Londres, Berlim, Madrid ou Copenhaga adoptaram soluções tecnológicas urgentes. Sistemas inovadores analisaram o tráfego, as horas de ponta, a concentração da poluição, o próprio comportamento dos condutores e armaram um plano viário que reduziu as emissões de veículos motorizados entre 30% e 60%. A gestão eficiente dos transportes em tempo real (controlo automático de semáforos consoante o volume de tráfego, por exemplo) e a adopção de energias verdes foram chave para diminuir o congestionamento e a contaminação crónica destas capitais.
O futuro em marcha
As histórias sobre automóveis inteligentes que se deslocam ou estacionam sozinhos, sem intervenção directa do condutor (nem riscos no carro do vizinho), não são novidade. Muito menos as aplicações de telemóvel guiadas por GPS que traçam o trajecto entre o ponto A e o ponto B, calculam o tempo de viagem e dizem como evitar as vias com mais trânsito.
O que as 5G representam para estas tecnologias é o aumento exponencial da confiabilidade, da cobertura e uma enorme velocidade de processamento de dados, reduzindo ao mínimo o chamado “tempo real” de análise. O factor segurança sairá certamente a ganhar. O atraso de uma fracção de segundo numa indicação ou alerta pode ser fatal quando estamos ao volante. Os avanços vão ser rápidos. Até 2027, estima a consultora Analysys Mason, mais de 830 milhões de automóveis terão ligações directas às redes móveis de última geração.
Também na indústria, o uso de veículos “movidos a 5G” começa a ganhar espaço. Algumas empresas passaram a gerir o transporte de mercadorias através destes novos sistemas. Na China, exemplifica o livro branco “5G Verde: Construindo um Mundo Sustentável”, uma empresa optou também por usar drones guiados por via remota para avaliar as condições da linha de gasodutos. Ao substituir os veículos terrestres que antes faziam este trabalho, os supervisores puderam receber pela primeira vez imagens HD em directo dos vários quilómetros da infraestrutura, o que aumentou a qualidade de análise.
O mundo anda a diferentes velocidades, e enquanto o motorista Sr. José dormita no carro estacionado na Marginal, a rapidez e a confiabilidade das 5G conecta cada vez mais equipamentos, pessoas, sensores e processos em tempo real. A sustentabilidade energética é uma das grandes ambições deste avanço tecnológico. A integração de soluções inovadoras em sectores aparentemente diferentes como os transportes, construção, segurança, saúde e indústria é possível e aumentará a eficiência do todo. Sem marcha atrás.
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