A demanda e os problemas que fazem com que a agricultura em Angola não seja sustentável, aliada a experiência de mais de 6 anos a desenvolver e a integrar tecnologia aeroespacial para resolução de problemas diários, fizeram com que escrevesse este pequeno artigo para apresentar um solução que junta o uso de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), Sensoriamento Remoto (SR), Sensores e Actuadores de Sistemas da Internet das Coisas (IoT) bem como as Infraestruturas de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para melhorar a cadeia de produção, escoamento e consumo de bens e produtos agrícolas.
Esta não é a única e nem a mais completa das soluções para resolver todos os problemas do sector agrícola. O foco deste artigo é apresentar apenas uma das inúmeras soluções com as quais Angola já pode contar, sendo que os demais vou partilhar em publicações futuras. A primeira das motivações desse artigo é demonstrar que existem oportunidades. Os problemas e soluções estão devidamente identificados e existe potencial humano e técnico pare resolvê-los.
Repare nos seguintes factores:
Existem em Angola, várias empresas a usarem imagens e outros dados aeroespaciais de satélites para resolver inúmeros problemas na terra, que somente com a visão privilegiada dos céus conseguimos resolver. O destaque aqui vais para as Start-ups Humbitec e All4Innovation que incansavelmente têm apresentado soluções práticas e efectivas, como o sistema integrado de informação e gestão geográfica, uma plataforma que envolve produtores, distribuidores e retalhistas para optimização de colheitas, distribuição, regulamentação de preços e aumento da segurança alimentar.
A nível governamental essa plataforma auxilia na criação e organização de equipas de apoio aos produtores, para garantir a qualidade das colheitas bem como efectuar a certificação de produção com medições das qualidades do ar, água, solo e produtos; e apoia a criação de associações de agricultores para produções uniformes e optimizadas aos tipos de solos.
Muito se tem dito sobre o uso de satélites na agricultura, no entanto as abordagens têm um pendor teórico e generalista, que acaba por não dar esperanças sobre o quão exequível ou real é este tipo de solução. Mais uma vez, a melhor maneira de dirimir essas questões passa por olharmos para a realidade local e trazer soluções de uso dos satélites em Angola nos seguintes níveis:
1. Produtores:
a) Disponibilizar meios de informação de melhor tipo de cultura, previsão de colheita e quais produtos, informação meteorológica, alarmistas e controlo de pragas;
b) Descrever a produção e métodos utilizados para certificação de qualidade dos mesmos.
2. Distribuidores:
a) Disponibilizar uma base de dados de produção, estimativa de colheita, data, quantidade e localização;
b) Criação de meios de recolha de colheitas com mais qualidade, garantindo os melhores produtos para os consumidores finais.
3. Retalhistas:
a) Possibilidade de efectuar encomendas nos centros de distribuição, capacidade de saber a origem dos produtos por lotes e respectivos métodos de produção, e toda a informação associada.
A garantia e exequibilidade dessa solução acenta em três (3) pilares fundamentais vinculados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS):
- ODS 2/12/13 – Já que a solução apresentada vai optimizar as redes logísticas de produção e distribuição de produtos agrícolas, ou seja, conectar produtores, desenvolvedores e consumidores por meio de informações e tecnologias precisas.
- ODS 9 – Os resultados obtidos servem para reforçar as Políticas Locais e Regionais de Produção Agrícola, circulação de informação, construção e partilha de infra-estruturas partindo do piloto em Angola, Zimbabwe, Cabo Verde e posteriormente expandindo para África.
- ODS 4/8 – A plataforma inclui um módulo de pesquisa e desenvolvimento e treinamento – com gerenciamento de projectos, simulação e ferramentas de experiência para que estudantes e pesquisadores possam fazer seus estudos de caso / estágios, desenvolvendo soluções para problemas práticos, usando processos e recursos “em situs” apropriado à sua realidade.
Estima-se que até 2050 a população mundial chegará a 9 bilhões e, com esses dados, surgem problemas relacionados à capacidade do ser humano se manter em um meio ambiente sem causar tantos impactos. Atenção que são 9 biliões de pessoas para alimentar. Portanto mais do que uma leitura passiva de constatação de números e conceitos gostaria que esse artigo servisse de canal de comunicação para quem estiver com vontade de apoiar para tornar o uso de satélites uma realidade para melhorar a condição de vida humana.